domingo, 3 de junho de 2012

Superado.

acho que agora, finalmente, posso dizer que não há mais nada entre nós.

Pego a caneca com café preto fumegante e atravesso a casa iluminada somente pela luz do aquário da sala, sem pressa, seguindo pelo corredor, entro no quarto vazio, a não ser por uma cadeira e uma escrivaninha. Sento à frente da máquina de escrever que mal funciona desde a minha infância, me ajeito em uma posição confortável e inspiro o aroma inigualável e forte de um café bem passado que vem em forma de vapor em direção ao meu rosto.

estou perfeito e impecavelmente bem. ou pelo menos no nível que nao costumam estar meus padrões; padrões que nunca foram lá tão normais.

Estou normal.

meu dias agora não tem mais o brilho falso e rosado dos olhos doces e otimistas de um apaixonado, ou a áurea cinza e opaca de uma depressão pós-término, depressão a qual demorei MUITO tempo de desilusões para se conformar.

Sinto o som das teclas enferrujadas como música. Doce. Muito doce.

como em todos os clichês, me sinto mais forte depois disso tudo.

Passo a mão por meu cabelo emaranhado e não consigo atravessar meus dedos nem por metade dos fios. Deixo pra lá, voltando a me concentrar na mágica anestesiante vinda daquele pequeno objeto.

honestamente, não quero mais seu amor, mas também não o vejo com ódio. sinto que fomos apenas tomados por sentimento sem fundamento, que não deviam ter aflorado, e se agora eles não existem mais, tudo o que eu posso fazer é me sentir grato, eu fiz a minha parte.
espero que pra você também não haja mais sofrimento. sofri o que tinha que sofrer de uma vez, sofri com intensidade. se você decidiu que sofreria aos poucos e controladamente, não posso interferir. se você continua a se torturar por tudo isso, não há modo de me culpar.
acho que tem toda a razão do seu lado. porém sei que, apesar de toda a turbulência, não vai conseguir esquecer, não de tudo. afinal de contas, eu também não vou.

não mais,
te amo.

Percebo que preciso de um cigarro. Atravesso a casa novamente, levando a caneca vazia, e decidindo por deixar o papel de tinta ainda sem secar, escondido entre tantos outros rascunhos.

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